sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A "insólita" candidatura à Presidência da República de Fernando Nobre

Em declarações ao Rádio Clube, Alfredo Barroso considerou que o candidato não tem preparação nem currículo para o cargo de chefe de Estado e defendeu que lhe falta passado político para ser presidente da República. “Para mim é um pouco insólito que uma pessoa que como ele se entregou à acção humanitária ao longo de uma vida queira de repente disputar um lugar que exige uma preparação política e um currículo e um passado que ele manifestamente não tem”, afirmou.

A política aos profissionais da política,é...? :(
Dr. Alfredo Barroso, está a puxar dos galões?...
O dr. Fernando Nobre só tem "estatuto" e legitimidade para votar em quem o senhor considera que tem a tal "preparação", "experiência", "passado", etc., políticos?...
É homem de obra pública em acontecimentos do Mundo... ah, pois!... mas não pertence ao "clube" dos que o senhor acha com preparação para ser Presidente da República.
Que obra têm o senhor e os seus "preparados" do clube para ombrear com a do dr. Fernando Nobre?... Não me diga que o pessoal do "clube" já teme por perda de privilégios e perda de influências?... Até os que ganham com bastante com comentários políticos nos grandes meios de comunicação social?... Comentários "sábios", claro!... da tal gente cheia de preparação, currículo e passado.
Passe bem...

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O critério da verdade!... Ei-lo!...

Mário Lino, que foi ministro no tempo em que aconteceram as coisas todas que por aí andam sobre as escutas do Face Oculta - ainda por cima, com responsabilidades de tutela directas! - anda repetidamente a dizer, desde ontem, nos ecrãs da SIC, que "Se o presidente Henrique Granadeiro já disse... se eu já disse... se o primeiro-ministro já disse... e se jornalistas e políticos de direita continuam a insistir no que insistem...", é claro que andam que a alimentar uma patranha...
Pois é, então eles os três não disseram já a verdade?... E se eles disseram, logo, é a verdade, não há discussão!...
O tempo que jornalistas, polícia judiciária e outros têm perdido a fazer investigação!... Porque é que não perguntaram logo a qualquer um dos três!?... Perguntavam, eles respondiam, e pronto! Estaria encontrada a verdade!... E toda a sociedade portuguesa poderia dedicar-se inteiramente ao Carnaval, todos nós pacificados uns com os outros!
Este auto-convencimento, senhores!... Do género: tudo o que nós pensamos está certo, se pensamos assim é bom... quem pensa o contrário, obviamente pensa mal!... Esta é a verdade!...
É assim: pior que pensar-se e agir-se honestamente ou maldosamente em relação a critérios politicamente admitidos como consensuais, é pensar-se que - obviamente! - o que se pensa e o que se faz está correcto e é A verdade!
Esta atitude traz-me ao pensamento, em associação um pequeno vídeo, de uma entrevista a um ministro de um credo religioso, que falou assim, numa entrevista: (ver aqui)

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Granadeiro sente-se "encornado". Então, e nós?...

Na sequências das notícias sobre "as escutas", especialmente as do Sol, esta sexta-feira, Henrique Granadeiro diz-se sentir-se "encornado".
No PS, as ordens são de "cerrar fileiras à volta do líder". Tanto quem manda cerrar como quem cerra conta com a segurança que o poder dos juízes lhes dá neste e noutros casos. A mesma segurança que tantos chefes políticos prepotentes têm contado noutros momentos da nossa História e das Histórias de outros países.
É... quem devia pugnar pelo primado da dignidade e da honestidade da política cerra fileiras à volta das decisões judiciais de um poder infelizmente domesticado, apoucando a Política, no esforço civilizacional que desde os Antigos Gregos, se tem tentado aperfeiçoar, a bem da cada vez melhor harmonização das vidas de tantos grupos humanos.
Se Henrique Granadeiro se sente ignorado, ele que faz parte dos poderes que dispõem, determinam.. e cozinham a seu bel-prazer... como deveremos nós, zés-povinhos, sentirmo-nos?...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Provincianos, transmontanos... e Miguel Torga

Transcrevo para aqui o seguinte texto de José António Saraiva, salvaguardando desde já um enorme respeito e carinho pelos transmontanos, por todos os provincianos, todos de cepas de que Miguel Torga - assumido, até ao tutano, transmontano e provinciano - gostava de cantar e homenagear. (Esta versão, fui comodamente buscá-la a "A Tulha do Atílio".)

"O PROCESSO chamado'Face Oculta' tem as suas raízes longínquas num fenómeno que podemos designar por 'deslumbramento'.

Muitos dos envolvidos no caso, a começar por Armando Vara, são pessoas nascidas na Província que vieram para Lisboa, ascenderam a cargos políticos de relevo e se deslumbraram.

Deslumbraram-se, para começar, com o poder em si próprio. Com o facto de mandarem, com os cargos que podiam distribuir pelos amigos, com a subserviência de muitos subordinados, com as mordomias, com os carros pretos de luxo, com os chauffeurs, com os salões, com os novos conhecimentos.

Deslumbraram-se, depois, com a cidade. Com a dimensão da cidade, com o luxo da cidade, com as luzes da cidade, com os divertimentos da cidade, com as mulheres da cidade.

ORA, para homens que até aí tinham vivido sempre na Província, que até aí tinham uma existência obscura, limitada, ligados às estruturas partidárias locais, este salto simultâneo para o poder político e para a cidade representou um cocktail explosivo.

As suas vidas mudaram por completo.

Para eles, tudo era novo - tudo era deslumbrante.

Era verdadeiramente um conto de fadas - só que aqui o príncipe encantado não era um jovem vestido de cetim mas o poder e aquilo que ele proporcionava.

Não é difícil perceber que quem viveu esse sonho se tenha deixado perturbar.

CURIOSAMENTE, várias pessoas ligadas a este processo 'Face Oculta' (e também ao 'caso Freeport') entraram na política pela mão de António Guterres, integrando os seus Governos.

Armando Vara começou por ser secretário de Estado da Administração Interna, José Sócrates foi secretário de Estado do Ambiente, José Penedos foi secretário de Estado da Defesa e da Energia, Rui Gonçalves foi secretário de Estado do Ambiente.

Todos eles tiveram um percurso idêntico.

E alguns, como, Vara e Sócrates pareciam irmãos siameses: Naturais de Trás-os-
-Montes,
vieram para o poder em Lisboa, inscreveram-se na universidade, licenciaram-
-se, frequentaram mestrados.

Sentindo-se talvez estranhos na capital, procuraram o reconhecimento da instituição universitária como uma forma de afirmação pessoal e de legitimação do estatuto.

A QUESTÃO que agora se põe é a seguinte: por que razão estas pessoas apareceram todas na política ao mais alto nível pela mão de António Guterres?

A explicação pode estar na mudança de agulha que Guterres levou a cabo no Partido Socialista.

Guterres queria um PS menos ideológico, um PS mais pragmático, mais terra-a-terra.

Ora estes homens tinham essas qualidades: eram despachados, pragmáticos, activos, desenrascados.

E isso proporcionou-lhes uma ascensão constante nos meandros do poder.

Só que, a par dessas inegáveis qualidades, tinham também defeitos. Alguns eram atrevidos em excesso. E esse atrevimento foi potenciado pelo tal deslumbramento da cidade e pela ascensão meteórica.

QUANDO o PS perdeu o poder, estes homens ficaram momentaneamente desocupados. Mas, quando o recuperaram, quiseram ocupá-lo a sério.

Montaram uma rede para tomar o Estado.

José Sócrates ficou no topo, como primeiro-ministro, Armando Vara tornou-se o homem forte do banco do Estado - a CGD -, com ligação directa ao primeiro-ministro, José Penedos tornou-se presidente da Rede Eléctrica Nacional, etc.

Ou seja, alguns secretários de Estado do tempo de Guterres, aqueles homens vindos da Província e deslumbrados com Lisboa, eram agora senhores do país.
MAS, para isso ser efectivo, perceberam que havia uma questão decisiva: o controlo da comunicação social.

Obstinaram-se, assim, nessa cruzada.

A RTP não constituía preocupação, pois sendo dependente do Governo nunca se portaria muito mal.

Os privados acabaram por ser as primeiras vítimas.

O Diário Económico, que estava fora de controlo e era consumido pelas elites, mudou de mãos e foi domesticado.

O SOL foi objecto de chantagem e de uma tentativa de estrangulamento através do BCP (liderado em boa parte por Armando Vara).

A TVI, depois de uma tentativa falhada de compra por parte da PT, foi objecto de uma 'OPA', que determinou a saída de José Eduardo Moniz e o afastamento dos ecrãs de Manuela Moura Guedes.

O director do Público foi atacado em público por Sócrates - e, apesar da tão propalada independência do patrão Belmiro de Azevedo, acabou por ser substituído.

A Controlinvest, de Joaquim Oliveira (que detém o JN, o DN, o 24 Horas, a TSF) está financeiramente dependente do BCP, que por sua vez depende do Governo.

SUCEDE que, na sua ascensão política, social e económica, no seu deslumbramento, algumas destas pessoas de quem temos vindo a falar foram deixando rabos-de-palha. É quase inevitável que assim aconteça.

O caso da Universidade Independente, o Freeport, agora o 'Face Oculta', são exemplos disso - e exemplos importantes da rede de interesses que foi sendo montada para preservar o poder, obter financiamentos partidários e promover a ascensão social e o enriquecimento de alguns dos seus membros.

É isso que agora a Justiça está a tentar desmontar: Essa rede de interesses criada por esse grupo em que se incluem vários "boys" de Guterres. Consegui-lo-á? Não deixa de ser triste, entretanto, ver como está a acabar esta história para alguns senhores que um dia se deslumbraram com a grande cidade.

Esta é a forma mais eloquente de definir um parolo provinciano com tiques de malandro... "mas sempre de mão estendida" pior que os arrumadores que uma vez na vida se revelam minimamente úteis independentemente do ar miserável como se apresentam e se comportam quando não se lhes dá a famigerada moedinha.

José António Saraiva"