segunda-feira, 19 de junho de 2023

Não, não é 1, são 2

 Os afazeres levaram-me, de manhã, por momentos, à Praça do Areeiro. Só lá parei, numa esquina, no Café Ribatejo, para tomar um café.

Enquanto espero, pela minha esquerda chegam dias senhoras. Vêm a conversar.

- «Dois cafés, um é com adoçante.», diz uma delas, por cima da fala da outra senhora, virando num instante a cara para o empregado, pelos vistos, seu bem conhecido. «E tu?», pergunta ela à amiga logo que voltou os olhos para ela. Nem sei se terá ouvido o que a amiga estava a dizer, na verdade, a segunda senhora nunca parou de falar.

- «Eu também quero adoçante.», respondeu, mostrando que esteve atenta à acção da amiga.

- «São dois adoçantes.», disse a primeira, novamente se voltando para o empregado.

- «E para comer?», perguntou ele enquanto pegava o segundo pacotinho de adoçante.

- «Nada, para comer, nada.» Ainda assim, mesmo que a amiga não se calasse, resolveu perguntar-lhe: «Queres comer alguma coisa?»

- «Um pastel de nata.», e voltou logo para o fio da fala que desfiava.

- «São dois, então são dois pastéis de nata!»

Eu tinha recolhido o troco e voltava as costas para sair. Só já fora do café pensei que podia ter ficado mais alguns segundos a ver se a senhora que não queria comer nada pediria ainda canela para pôr no pastel de nata. E será que a amiga da senhora que não queria comer nada se iria calar enquanto comesse o pastel de nata?

sexta-feira, 9 de julho de 2021

E A JUSTIÇA É A ARTE POLÍTICA...

E A JUSTIÇA É A ARTE POLÍTICA...


1) No dia em que fiz 19 anos, em 1975, ofereci-me a República de Platão (a edição da Gulbenkian).
2) Hoje, algumas coisas que penso que são inteiramente minhas serão, afinal, coisas que assimilei da República dessa altura; outras coisas desse tempo pura e simplesmente esqueci.
3) Estou a reler a República, noutra tradução, noutra edição; de 2017 (2005). Logo a primeira fala, na primeira linha de ambas as edições faz uma enorme diferença: é entre um "fui" e um "desci".
4) Estou a deliciar-me. Sempre que posso, leio esta nova edição com a outra ali ao lado. Comparo, confronto.
5) Aqui e ali fico pronto a reconhecer que, mesmo que eu continue a pensar que isto ou aquilo tenha sido mesmo criado por mim, a fonte da aprendizagem ou assimilação está (re)encontrada.
6) Sou levado, na leitura, a pensar nos tempos que correm e nos (des)Governos que nos têm caído em sorte. Por exemplo, logo quando, no Prólogo, se clarifica que a justiça é a arte política...
7) e que essa Justiça é uma espécie de arte de furtar, para benefício dos amigos e prejuízo dos inimigos. Pois... Então não é que me parece que este Prólogo milenar é tão, tão, tão actual?!!!
8) Que mais irei eu (re)encontrar na velha República?

segunda-feira, 28 de junho de 2021

ÚLTIMA HORA! PORTUGAL, 1 - BÉLGICA, 0

ÚLTIMA HORA! PORTUGAL, 1 - BÉLGICA, 0

Vamos aos quartos-de-final!!!
O VAR (V-amos A-lterar a R-ealidade) de Marcelo corrige erro crasso da arbitragem do jogo

Portugal-Bélgica: a bola entrou na baliza da Bélgica!!!
Diz Marcelo (é oficial, está no 'site' da Federação Portuguesa de Futebol):
«[...] ontem nós mostrámos que éramos melhores que o número um do ranking mundial. Se com a França tínhamos mostrado que éramos iguais, ontem jogámos mais que o número 1 do ranking mundial. [...] Eu ando nisto desde os 26 anos de idade, a analisar.»
São as tradicionais vitórias morais dos portugueses. Vale bem a pena comparar as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa com as Cristiano Ronaldo:
«Não conseguimos o resultado que queríamos e saímos da prova antes do desejado. Mas estamos orgulhosos do nosso percurso, demos tudo para renovar o título de Campeões Europeus e este grupo provou que ainda pode dar muitas alegrias aos portugueses.
Os nossos adeptos estiveram incansáveis no apoio à equipa do início ao fim. Foi por eles que corremos e lutámos, no sentido de corresponder à confiança que depositaram em nós. Não foi possível chegar onde todos queríamos, mas fica aqui o nosso sincero e profundo agradecimento.
Parabéns à Bélgica e boa sorte para todas as seleções que continuam na competição. Quanto a nós, voltaremos mais fortes. Força Portugal!»
Quais são as que mais envolvem e captam os jovens?
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Fonte da fotografia:  https://www.fpf.pt/pt/News/Todas-as-not%C3%ADcias/Not%C3%ADcia/news/30108

domingo, 27 de junho de 2021

«ESTE MUNDO É UMA EXTRAORDINÁRIA CASA DE DOIDOS.»

«ESTE MUNDO É UMA EXTRAORDINÁRIA CASA DE DOIDOS.»

A afirmação caminha para os 101 anos. É de Einstein, numa carta para um amigo, expressando a sua surpresa pelo interesse generalizado pela teoria da relatividade, em 12 de Setembro de 1920.

E continua:
«Presentemente, qualquer cocheiro ou empregado de mesa anda a debater se a teoria da relatividade está correcta. As suas convicções sobre o assunto são determinadas pelo partido político a que pertencem.»
Conclusões:

1.ª) Afinal, a culpa não é das redes sociais na Internet; sem elas, as pessoas já gostavam de dar opiniões. Ainda bem!

2.ª) A politiquice e os políticos continuam iguais: a cartilha do partido é que vale, como valia a Bíblia nas tradicionais trevas da Idade Média - são elas, as cartilhas, que garantem os privilégios de alguns à custa da exploração de muitos.


sexta-feira, 25 de junho de 2021

É SOBRE A COVID-19 – JÁ NÃO HÁ PACHORRA, N.º 2

 É SOBRE A COVID-19 – JÁ NÃO HÁ PACHORRA, N.º 2

Quando o sr. Presidente da República - contornando o facto de ter sido pressuroso a telefonar ao sr.
Presidente da Assembleia da República para irem no próximo domingo a Sevilha ver o jogo de Portugal com a Bélgica - vem explicar aos portugueses que o seu comparsa da AR, quando exortou os portugueses à «deslocação massiva» a Sevilha para apoiar a selecção, queria dizer «Só vão aqueles que possam ir», ele está a enganar quem?
Os portugueses certamente não enganará, já que eles, como o sr. Presidente Marcelo ainda há pouco disse, são muito sábios com os seus 900 anos de História — é que nem o mais travesso dos miúdos tem a ilusão de conseguir enganar assim os seus pais ou professores quando os querem convencer de que viram um elefante do tamanho duma formiga!
Mais que a quaisquer outros portugueses, cabe ao Presidente da República e ao Presidente da Assembleia da República darem os correctos exemplos de cidadania política e cívica. Neste caso, o bom exemplo é o resguardo, não é a deslocação massiva; é assumir o que é dito, não é distorcer.
As duas mais altas figuras do Estado Português estão a dar maus exemplos aos cidadãos. Até porque Sevilha é actualmente a região da Europa mais perigosa do ponto de vista da disseminação da covid-19.
E deixo de lado as vertentes da inteligência-estupidez; informação-desinformação; honestidade-desonestidade; responsabilidade-irresponsabilidade; cuidados sanitários-balda sanitária — é que eles os dois estarão sempre protegidos!
E depois, um dia destes, virão os dois dizer que os portugueses não estão a colaborar!
Não há mesmo pachorra!

É SOBRE A COVID-19 - O GRAU ZERO DA RESPONSABILIDADE POLÍTICA

 

É SOBRE A COVID-19 - O GRAU ZERO DA RESPONSABILIDADE POLÍTICA
Virou moda os (des)governantes do nosso País culparem os cidadãos pelos seus comportamentos descuidados e irresponsáveis.
Agora veja-se o belo exemplo das duas mais importantes figuras do Estado Português: o Presidente da República e o Presidente da Assembleia da República. Absolutamente lamentável!
Para Ferro Rodrigues, tudo menos que massivamente é pouco patriótico: todos a Sevilha para apoiar a selecção portuguesa de futebol! Ir a Sevilha é uma «acção nacional».
O Cristiano Ronaldo, há dias, pegou em duas garrafas de coca-cola, numa conferência de imprensa, e afastou-as para bem longe da vista de todos. Será que ele consegue fazer o mesmo com duas pessoas?
 

sábado, 15 de fevereiro de 2020

O casal de velhos, as escadas do metropolitano e a garrafa

Estava eu a chegar à entrada do Metro, nos últimos degraus da escada de acesso, reparo que um
senhor, já de muita idade, agita-se em cima de titubeantes pernas, atrapalhado com a iminência dos degraus rolantes que se vão desfazer em chão movediço. A cara contrai-se num esgar medroso, que mostra bem o que lhe vai no corpo e na alma.
Traz um saco grande de compras na mão esquerda, tentando equilibrar-se com a direita no corrimão andante que também lhe foge. Quase cai quando põe os aflitos pés em chão finalmente parado.
Instintivamente, esboço um gesto de apoio, mas, à distância que ainda estava do senhor, eu não chegaria a tempo de o ajudar.
Dois degraus atrás, ainda sobre eles a rolar, firme nas duas pernas, a mulher do senhor tão atrapalhado, ia olhando, aparentemente impávida, o marido. Também levava um saco de compras na mão.
No mesmo momento em que fiz o gesto reflexo de ajuda para o senhor, ela diz:
«Cuidado, homem. Olha a garrafa, não partas a garrafa.»
Não disse mais nada, o senhor nada disse nem lhe disse.
Eu fiquei um pouquinho a olhá-los, ele um bocadinho à frente, ela um bocadinho atrás, caminhando devagar. Calados, sem dizerem nada um ao outro, sem se olharem.
Pareciam resignados à sua sorte, à sorte do que acontece dia após dia em gente das suas idades, de solitárias e pobres vidas a dois. Naquele instante, ele resignado à sorte de não ter caído nas escadas rolantes. Ela resignada à sorte da garrafa se ter conservado inteira.
Entrei na galeria da estação do Metro e fui à procura do elevador para a superfície, será que estaria avariado? Não, não estava avariado - só que os faria sair num passeio que os deixava um bocadinho mais longe do passeio de casa e os obrigava a atravessar um cruzamento com semáforos complicados.
Que opção tomarei eu quando tiver a idade dos senhores?...