terça-feira, 28 de julho de 2015

OS VEZES E OS REVEZES DO IDEAL EUROPEU - 004

OS VEZES E OS REVEZES DO IDEAL EUROPEU - 004

Encantadora - e sábia! - percepção das diferenças humanas e dos ritos agregadores das sociedades, de Jean Monnet

«Enriqueci a minha experiência de negociante - ou seja, a minha experiência como homem - durante esses anos em que viajei muito, por Inglaterra, mais uma vez, pela Suécia, pela Rússia. Ia ao Egipto, onde descobri outras formas de persuasão. Acompanhava o agente grego da nossa casa nas suas deslocações de aldeia em aldeia. Visitávamos os armazenistas, que nos convidavam para sentar, tomavam café connosco e regressavam em seguida às suas ocupações. Sabíamos que tínhamos de contar com um tempo de espera considerável. Depois, Chamah, o grego, decidia que era preciso concluir. Anotava, então, num caderno o que considerava ser a quantidade razoável, e que nunca era discutida, a destinar ao nosso cliente. Tinha respeitado os ritos. Mais tarde, no Oriente, voltei a encontrar esta importância do tempo que, por vezes, leva a duvidar que Cognac(1) fique mais perto de Nova Iorque do que de Xangai. Na China, há que saber esperar, Nos Estados Unidos, há que saber voltar. Eis duas formas de paciência para a qual o conhaque(2), fruto de uma determinada duração, tão bem predispõe.» (Jean Monnet, Memórias, Ulisseia, 2004 (1976), p. 45)
«J'enrichissais mon expérience de négociant – c'est-à-dire mon expérience d'homme – pendant ces années où je voyageais beaucoup, en Angleterre à nouveau, en Suède, en Russie. J'allais en Égypte où j'appris d'autres formes de persuasion. J'accompagnais l'agent grec de notre maison de village en village. Nous visitions les grossistes, qui nous faisaient asseoir, buvaient le café avec nous et vaquaient à leurs affaires. Nous savions qu'il fallait attendre un temps raisonnable. Puis Chamah, le Grec, décidait qu'il fallait conclure. Alors, il écrivait sur un carnet la quantité raisonnable qu'il estimait devoir être prise par notre client et qui n'était jamais discutée. Il avait respecté les rites. Plus tard, en Orient, je retrouverai cette importance du temps, qui fait douter quelquefois que Cognac soit plus près de New York que de Shanghai. En Chine, il faut savoir attendre. Aux États-Unis, il faut savoir revenir. Deux formes de la patience à laquelle le cognac, fruit d'une certaine durée, prédispose si bien.» 
(1) Terra natal de Jean Monnet, em França.
(2) O pai de Jean Monnet era negociante de conhaque, e envolveu o filho no negócio desde muito cedo; "oficialmente" desde os 16 anos de idade.

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