quarta-feira, 10 de outubro de 2012

"A orquestra, desafinada, ainda toca, mas o navio já se afunda a grande ...

Um discurso extraordinário!...
Argumentos apanhados no campo do adversário. O despudor dos discursos dos membros do governo ("preguiçosos", "pantominices", "formigas e cigarras", etc.), na prática, junta Freitas do Amaral (quando diz que as luta entre as classes é dos ricos contra os pobres), Baptista Bastos (quando tão bem desmonta os farisaicos discursos de Cavaco Silva (em Espanha!, não em Portugal!) e Passos Coelho, quando dizem que os políticos devem ouvir o povo; e que também estão contra o aumento dos impostos (!)); e junta, finalmente, este deputado do PCP.
Como diz Baptista Bastos "Mas os estragos que produzem são muitíssimo mais graves e insidiosos do que os explícitos pelas políticas económicas. Atingem o mais fundo do nosso ser, porque incitam à dualidade de carácter, à dependência do momento que passa, à ambiguidade do inevitável e ao desprezo pela própria condição humana."

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O princípio da honra - Opinião - DN

(os sublinhados no texo são da minha responsabilidade)
O princípio da honra - Opinião - DN
Baptista Bastos

O princípio da honra

por Baptista BastosHoje
Portugal está, novamente, dividido entre "eles" e "nós." Como no tempo do fascismo nada temos a ver com decisões, não partilhamos o que nos impingem, desconhecemos o que engendram, ignoram-nos e desprezam-nos. Não há que escapar à expressão das palavras. A pátria transformou-se numa instância de encerramento para a maioria dos portugueses, e quem reina perverteu completamente a natureza do 25 de Abril. O poder do PSD-CDS não é um meio, mas um fim. Uma cegueira e uma surdez patológicas caracterizam este governo, cuja classe a que pertence já manifesta, ela própria, sinais de embaraço e de inquietação.

Demonstrações de protesto e de cólera acompanham os governantes, para onde quer que vão. O Presidente da República não escapa à ira. É refém da teia reticular com a qual se cumpliciou, esquecendo os compromissos de honra e a qualidade imparcial das funções que exerce. As vaias de que é objecto representam não só um ricochete pelas conivências em que se enredou, mas uma acusação reiterada às máscaras sob as quais se pretende ocultar.

O imbróglio do ministro Miguel Relvas, doutor em forma tentada, que alguns (entre eles o Marcelo Rebelo de Sousa) intentam confundir com o caso Sócrates, não só abala as estruturas do Executivo como se estende à sociedade portuguesa para se inscrever num capítulo da amoralidade. Entre as ambiguidades das declarações de próceres da Direita e o silêncio do ministro Nuno Crato, a desagregação atingiu as raias do absurdo. Vamos acreditar em quem?, se a razão dominante nos dirige, violentamente, para patamares que esvaziam a índole de todos os valores.

O Tribunal Constitucional, ao considerar falhas de legalidade as supressões dos subsídios de férias e de Natal, colocou o Governo sob a espada de Dâmocles. Qualquer que seja a decisão a tomar, ela será, sempre, contra Passos Coelho. Igualizar o público com o privado equivale a uma tempestade imprevisível, que os patrões temem e a que expressamente se opõem. Aumentar os impostos, como?, se o sufoco já é asfixiante, e as exteriorizações populares começam a chegar a níveis preocupantes.

Pedro Passos Coelho e as suas obstinações estão a empurrar-nos para perímetros até agora desconhecidos e, por isso mesmo, perigosíssimos. A situação portuguesa é calamitosa, e as indignações populares renovam-se, em vários sentidos e direcções, quando as coisas parecem calmas e tranquilas. O lugar do trabalho não merece, ao primeiro-ministro e aos seus, o respeito e a supremacia exigíveis. Com a desfaçatez comum a quem não presta contas, e deseja irresponsabilizar-se, após o veto do Constitucional, declarou, impante e malicioso, "agora, a oposição diga o que devemos fazer".

Levanta-se a questão de saber, afinal, o que é a dignidade em política, quando a estratégia da dissimulação se substituiu ao princípio da honra.

Profissão: Ex-ministros (ou Cosa Nostra à portuguesa)

Não será este um excelente trabalho jornalístico?
Numa licenciatura ou num mestrado de Formação Cívica não deveria deixar de haver uma cadeira montada à volta deste trabalho.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

A Crise, o Futuro, o Controlo das Sociedades


Transcrevi para aqui esta entrevista do jornal i, não vá a gente deixar de ter acesso a ela na página original do jornal.
(http://www.ionline.pt/mundo/rob-riemen-classe-dominante-nunca-sera-capaz-resolver-crise-ela-crise-1)

Rob Riemen. “A classe dominante nunca será capaz de resolver a crise. Ela é a crise!”

Por Joana Azevedo Viana, publicado em 23 Abr 2012 - 03:10 | Actualizado há 11 semanas 7 horas
O filósofo holandês esteve em Lisboa à conversa com o i sobre o espírito de resistência e o “eterno retorno do fascismo”

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Lisboa e a Política Portuguesa para Antero de Quental

Sempre que venho em temporada para o Faial, a atenção das minhas leituras procura especialmente assuntos e autores das ilhas.
Desta vez cheguei-me um pouquinho mais a Antero de Quental, pela escrita que Eça de Queirós lhe dedicou.
Eça foi um dos amigos de Antero a quem foi pedido que desse o seu contributo para o "In Memoriam". O tempo que Eça demorou a entregar o seu texto fez os coordenadores da obra quase chegarem ao desespero, tanto que tardou na entrega do escrito prometido!
O texto foi finalmente entregue e, depois de o lermos, percebemos como Eça sentia necessidade de tempo - muito tempo! - para o escrever. Houve ainda quem opinasse que a demora de Eça tivesse a ver com a reação pessoal ao que ele, na altura, pensou ser a exclusão a que tinham condenado o seu amigo Ramalho Ortigão.
Sobre a política portuguesa, escreve Eça :
"Elle [Antero de Quental], de resto, ainda acreditava então que miserias e erros provinham do vicio ou da incompetencia da pequena Casta Politica que, atravez de Lisboa, domina a Nação, - e que, no fundo do povo, existia, latente mas intacta, uma grande energia viva, capaz de reconstruir, sob a direcção da Virtude e da Capacidade, a ordem na Sociedade portugueza." (p. 509, edição de 1896)
"Lisboa para Anthero era uma Ninive revôlta e sordida" (p. 522)
O que mudou?... Nada!... Já Júlio César avisara para o jeito das gentes que haveriam de desaguar nos corredores e assentar as peidolas nas cadeiras dos poderes da cidade capital.