terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

MENTIRAS, POIS NÃO; MAS VERDADES CONVENIENTES TAMBÉM NÃO!

Professor Bagão Félix,

Vou levar o seu texto, A Pós-Mentira, aos meus alunos de Psicologia. Raramente a Comunicação Social nos traz textos de opinião que valorizem tanto as investigações psicológicas - as feitas por políticos actuais, ou mais ou menos passados; e não imediatamente ligados ao saber profissional das psicologias.
Vou levá-lo pelo que diz e pelo que mostra: explícita e implicitamente.
Sabe, a primeira coisa coisa que pensei foi mais ou menos assim:
Se o texto é de há vários meses, porquê agora?... Será que não teve oportunidade de o ler logo? Há tanto que ler, seja qual seja o assunto ou a área de conhecimento, não é verdade? Ou será que é um texto que casa bem com o assunto das verdades ou das mentiras do ministro das Finanças, Mário Centeno?
Senhor Professor, tradicionalmente os papás e as mamãs dizem às crianças que é feio mentir; e nem precisam de investigações mais ou menos sofisticadas para terem ideia de onde as mentiras deixadas em roda livre podem levar - e não são apenas as tão deliciosas confabulações próprias da infância.
A investigação que cita é, de facto, muito interessante; e mentir é também um comportamento, em princípio, condenável.
Ora, condenáveis são também outros comportamentos, por exemplo, os que tocam à honestidade, à lisura das acções. Deixe-me que lhe diga que penso que isso está em causa no seu texto, no quer escreve e no momento em que o publica. E sobre a falta de honestidade e de lisura os papás e as mamãs também intuem facilmente. Da falta de honestidade e da falta de lisura à manipulação social, sob o manto diáfano da verdade, vai um pequeno, triste e lamentável passo.
Repare, eu não estou a defender ninguém! Só quero mesmo criticá-lo a si, até porque não esperava isso de si. Tenho-o noutra conta, a outras pessoas daria total desprezo pelo que escrevesse; e, se lesse, na melhor das hipóteses, soltaria um impropério e logo a seguir esqueceria o artigo de opinião.
Não terá sido puramente casual o facto de o mesmo jornal publicar, junto do seu, um artigo de opinião de um outro político, Paulo Rangel, a falar, imagine-se!, da "palavra dada, palavra honrada".
Sabe, pensei logo em telhados de vidro! Tanto os dele como os seus, Professor; e também na lição (mal aprendida?) que Paulo Rangel terá aprendido com os seus pais sobre essa palavra dada e honrada... que tanto filho, afinal, desonra.
Não é curioso, Professor, que o seu texto não fale uma única vez em deputados, governantes e políticos?... Caro Professor, vá lá, não brinque com as palavras, nem ao gato escondido com rabo de fora!... É claro que nos quer falar de Mário Centeno e seus comparsas! O que faz todo o sentido!
Mas, como perguntava o célebre jornalista, onde estava o senhor no 25 de Abr..., perdão!, no tempo de outras governações e desgovernações? Com ou sem textos da Neuroscience?
"Pós-mentira", diz o senhor... É a primeira vez? E as pré-mentiras, as quase-mentiras, as para-mentiras; as inverdades, as mentiras que a avestruz deixou passar; ou mesmo as verdades que se preferiu omitirem-se? E as memórias e os esquecimentos - voluntários e involuntários?
É verdade, caro Professor, nos meus critérios de avaliação ética (certamente para mais ninguém valem senão para mim), o seu texto tem nota claramente negativa. Vou continuar a ler os seus textos com todo o respeito, desejando que repitam o que encontrei em tantos outros, mas não neste.
Um abraço cordial!
E faço votos de que logo esteja tão contente quanto eu com o nosso Glorioso!