Os afazeres levaram-me, de manhã, por momentos, à Praça do Areeiro. Só lá parei, numa esquina, no Café Ribatejo, para tomar um café.
Enquanto espero, pela minha esquerda chegam dias senhoras. Vêm a conversar.
- «Dois cafés, um é com adoçante.», diz uma delas, por cima da fala da outra senhora, virando num instante a cara para o empregado, pelos vistos, seu bem conhecido. «E tu?», pergunta ela à amiga logo que voltou os olhos para ela. Nem sei se terá ouvido o que a amiga estava a dizer, na verdade, a segunda senhora nunca parou de falar.
- «Eu também quero adoçante.», respondeu, mostrando que esteve atenta à acção da amiga.
- «São dois adoçantes.», disse a primeira, novamente se voltando para o empregado.
- «E para comer?», perguntou ele enquanto pegava o segundo pacotinho de adoçante.
- «Nada, para comer, nada.» Ainda assim, mesmo que a amiga não se calasse, resolveu perguntar-lhe: «Queres comer alguma coisa?»
- «Um pastel de nata.», e voltou logo para o fio da fala que desfiava.
- «São dois, então são dois pastéis de nata!»
Eu tinha recolhido o troco e voltava as costas para sair. Só já fora do café pensei que podia ter ficado mais alguns segundos a ver se a senhora que não queria comer nada pediria ainda canela para pôr no pastel de nata. E será que a amiga da senhora que não queria comer nada se iria calar enquanto comesse o pastel de nata?