sábado, 25 de abril de 2009

"25 de Abril, sempre!", edição de 2009

Ouvi na íntegra e em directo o discurso oficial do Senhor Presidente da Assembleia da República, na sessão solene comemorativa do 25 de Abril.

No meu entender, foi o discurso absolutamente perfeito, em tempo de crise nacional e mundial, da casta política dominante que - parafraseando Miguel Torga - colhe hoje (desonestamente?...) o que os capitães de Abril sonharam (genuinamente?...) ontem. Foi uma prosa muito bem compostinha de auto-protecção, de auto-justificação e de auto-elogio, perante o povo português, do alto da tribuna cujo manejo (interesseiro?...) está muito bem apurado.

Não faltou sequer o tom grave dos grandes princípios e obrigações morais, atirados assim para ficarem a pairar solenemente sobre as cabeças de todos os presentes e, dessa forma, responsabilizando, na verdade... ninguém!. Mas a imagem e a palavra ficaram bem compostas nos rostos de todos, muito graves e sérios, e espalhando tanta gravidade e seriedade a todos nós, o País inteiro!, pelos jornais, pelas televisões e pelas rádios.

No final (e segundo me apercebi pela transmissão radiofónica que fui escutando enquanto conduzia), foi um lamentável corropio de passos apressados ao pé dos órgãos de informação e comunicação social, procurando posicionamento privilegiado em relação a uns e esquivamento conveniente a outros... Parece que baias, estrategicamente colocadas, deram muito jeito...

Como já vem também tornando-se hábito, os deputados e restantes presentes foram poupados ao Hino Nacional. Antes que se cansassem do esforço vocal, antes que desafinassem, o coro contratado para o efeito cantou o Hino por todos. Depois, com parcimónia grave e solene, os deputados bateram as palmas.

O resto, sintetizo nestas palavras prodigamente repetidas por Paulo Portas: que as discussões no hemiciclo, que as discussões entre os deputados têm de ser mais substantivas e menos adjectivas!... Que as discussões têm de ser mais programáticas e menos crispadas!...

Imagino Bordalo Pinheiro e o velho Zé Povinho (em que estão tentanto tornar-nos a todos outra vez) a olharem Paulo Portas, ou qualquer outro deputado, Bordalo e Zé Povinho de boca e olhos bem abertos, completamente siderados com tanta sapiência. Que verbo!... Quem fala assim não é gago! Ei, valente!... Pois é, por isso é que Paulo Portas é deputado e eu não, é porque ele sabe dizer que as discussões têm de ser "substantivas", "adjectivas", "programáticas", "crispadas", e eu não!

Triste fado, este, a que tornámos 35 anos depois de um sonho lindo!...

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