domingo, 26 de abril de 2009

Nuno Álvares Pereira, no dia a seguir ao 25 de Abril

Hoje de manhã, ao pequeno-almoço, tinha a televisão sintonizada na SIC Notícias e dei atenção à "peça" jornalística sobre a canonização de Nuno Álvares Pereira. Mais uma vez, a velha querela (guerra, confronto ou teima, para os zés povinhos) entre o Estado laico e a Igreja secular. Como é?... Afinal, Nuno Álvares Pereira é herói porque enfardou forte e feio nos castelhanos, ou é santo porque curou a maleita do olho de uma senhora que tinha muita fé nele? Bem, adiante...
Confesso que quis ouvir com atenção a mensagem do Presidente da República, que a reportagem foi buscar ao sítio da Presidência da República na Internet. Assim que acabei o pequeno-almoço, atirei-me à Internet. Sim, lá estava a mensagem, preto no branco, todas as palavras escritas; vídeo e tudo!...
Senhores!... Abismei!... Fiquei de queixo caído!... Juro!, pela saúde destes olhinhos que a terra há de (pelo menos aqui, a grafia está já de acordo com o que vem novo Vocabulário, calhamaço que folheei há dias; é assim agora, sem hífen) comer!
Eu peço desculpa a toda a gente (não vá eu, se o não fizer, esquecer-me de alguém...), mas tenho o pensamento toldado pela emoção e não consigo escolher nem organizar as palavras para que este meu escrito seja mais substantivo que adjectivo, ou que seja menos crispado e mais programático. Que todos os paulos portas da nossa política me perdoem!...
Então não é que depois da sessão solene de ontem, em que toda a gente falou de crise ECONÓMICA, que tanta gente (o Senhor Presidente da República incluído) deixou recados POLÍTICOS, o Senhor Presidente da República vem hoje (menos de 24 horas depois!...) dizer que o exemplo de Nuno Álvares Pereira, o exemplo de "o forte Dom Nuno" - diz ele, citando Camões (olhem logo quem ele foi buscar!...) - é um exemplo "muito em particular, para as nossas Forças Armadas"!?... É verdade, senhores, pasmei!...
Esperem aí!... Então, ontem, como já disse, menos de 24 horas antes do que hoje foi oficialmente publicado, ele não esteve numa sessão solene, no espaço físico, público, mais simbólico da identidade política do nosso País, a dizer que a crise é económica, a lançar recados aos políticos e a homenagear o exemplo de 35 anos... precisamente dos Capitães de Abril (quer dizer, das Forças Armadas)!?... 
Se calhar também quem nos governa também deixa o pensamento claro e objectivo ser invadido pela névoa das emoções, e atire a discussão da canonização de hoje para alternativas de preto ou branco: ou herói militar, ou santo milagreiro.
Confesso que pouco me importa a canonização ou não de Nuno Álvares Pereira. Já há muito que a sua vida deveria ser inspiração e exemplo para muita gente governante do nosso País. Se a canonização tornar mais forte essa inspiração e esse exemplo, pois então, seja.
Portanto, se a crise é económica, se os avisos de ontem, dia 25, são para os políticos, se as notícas que todos os dias nos chegam a casa são as da corrupção e do enriquecimento ilícito de quem se move nas esferas do poder político e económico, não  teria sido mais razoável que o Senhor Presidente da República destacasse o exemplo da renúncia do forte Dom Nuno às honras do Reino e aos bens materiais e a sua dedicação sincera, humilde e inteiramente despojada de confortos materiais a uma vida de serviço ao Próximo? Que tivesse  destacado estes exemplos "mais em particular, para os senhores deputados, membros do Governo e outros poderosos", que tanta legitimação pedem ao povo de Nuno Álvares Pereira, ciclicamente, em actos eleitorais (este ano vai ser uma barriga cheia de legitimação!)?

P.S. - Acabei de ouvir o Santo Padre a falar de Nuno de Santa Maria Álvares Pereira. Curiosamente, exemplarmente, não teve problemas nenhuns em falar do guerreiro e do santo.
Afinal, de quem foi poderoso, rico e honrado; e se tornou completamente desprotegido, pobre e ainda mais honrado!

1 comentário:

  1. Excerto tirado da notícia publicada há pouco na edição on line do Público:
    Papa refere no final da canonização a "compaixão e o despojamento" do Santo Condestável
    26.04.2009 - 13h40 António Marujo, em RomaNo final da missa de canonização desta manhã, o Papa Bento XVI referiu-se ao "sentido de compaixão e despojamento de quem deu os seus bens aos mais desfavorecidos", falando do Santo Condestável.

    Ao contrário do que sucedera durante a homilia, em que destacara apenas a dimensão do militar que realizara "os princípios da vida cristã", Bento XVI falou, na alocução final do Regina Coeli, da "nobre lição de renúncia e partilha" dada por Frei Nuno de Santa Maria.

    Sem essas características, referiu o Papa, "será impossível chegar àquela igualdade fraterna característica de uma sociedade moderna, que reconhece e trata a todos como membros da mesma e única família humana".

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