sábado, 2 de novembro de 2019

As razões do ódio: Tribalismos - 2.º episódio da série de Spielberg: Tribalismos

Do segundo episódio: TRIBALISMOS
  • Como foi maravilhosamente dito e mostrado na curta-metragem  de Vicent Moloi, "O Traje das Mulheres Herero", de 2007, «todos nós queremos pertencer [a uma tribo, a um grupo humano e cultural], saber de onde vimos,  isso é importante na vida de toda a gente». (1)
  • Como já antes de eu chegar ao magistério da Psicologia, há 30 anos, os manuais vulgarizados da disciplina do ensino secundário diziam, atribuindo a autoria a Aristóteles, «O Homem é um ser eminentemente social. Todo aquele que é capaz de se bastar sozinho, ou é um deus, ou é uma besta, mas não um ser humano».
  • As tribos compõem-se e organizam-se para proverem à segurança e bem-estar dos seus membros - até mesmo nos grupos tribais de animais não humanos.
  • Desde as mais tenras idades, os seres humanos fazem a experiência social e cultural da tribo; e aprendem a reconhecer os que são da sua tribo, e a identificar os estranhos, os que a ela não pertencem.
  • E provavelmente a mensagem mais importante: «O que provoca o ódio é a percepção , não é a realidade». Das pessoas, das coisas e dos acontecimentos.
Alguns comentários pessoais:
  1. Partilhamos com  muitos animais, especialmente os que estão geneticamente mais próximos de nós, a necessidade e o conforto de pertença a um grupo. A exclusão do grupo de pertença foi castigo terrível na Grécia Antiga, era o ostracismo. Nos outros primatas, esse castigo também existe, e tende a ser para toda a vida. Por exemplo, Jane Goodall testemunhou e guardou registo de casos assim em grupos de chimpanzés.
  2. Do ponto de vista da experiência psicológica pessoal, íntima, a consciência e o sentimento da não pertença ao grupo (família, escola, bairro, clube, etc.) é fonte de distúrbios mentais carregados de muito sofrimento; e com um potencial de manifestação de sentimentos negativos e acções prejudiciais à integridade dos outros e à do próprio indivíduo que se sente deslassado.
  3. Alguém um dia tornou famosa a afirmação «Aprende-se mais a ler num homem do que em 10 livros». E para ler os homens temos de estar com eles, vê-los, falar com eles, fazer coisas com eles. Este é o procedimento que faz a diferença entre a boa e a má pedagogia das relações pessoais entre os membros dos diferentes grupos humanos.
  4. O filme Die Welle (A Onda), magistral realização cinematográfica a partir de uma ocorrência verídica numa escola americana (2), mostra que os comportamentos irracionais, radicais e muito violentos estão sempre prontos a irromper, e na vertigem de apenas uma semana escolar, tudo pode mudar, com danos, por vezes, absolutamente irreparáveis. Cá está, paradoxalmente, com base na genuína fruição dos sentimentos de pertença - que, entretanto, se cruzam e compensam tantos sentimentos de frustração afectiva, abandono e deslassamento social e afectivo.
  5. No Principezinho, a Raposa diz assim para o menino: «É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos…» Não, Raposa, não é simples. Num coração inseguro, carente, infeliz, descrente, os olhos são a porta da saída para o caminho da Esperança e do Entendimento.
  6. O medo do Outro é, na maior parte das vezes, o medo que as crianças têm das sombras dos dedos projectadas na parede à sua frente.
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(1) Ver no Youtube, num canal do próprio realizador:https://www.youtube.com/watch?v=O_pKMyRvPEo
(2) Ver no Youtube, no canal História:  https://www.youtube.com/watch?v=QxdmL3SCGM4&t=1718s

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