segunda-feira, 4 de novembro de 2019

As razões do ódio: Instrumentos & Tácticas - 3.º episódio da série de Spielberg

Do terceiro episódio: Instrumentos & Tácticas
O jornalista Jelani Cobb, o condutor deste episódio de Why we hate.


  • A mensagem deste muito eficaz vídeo é simples: o ódio pode ser muito facilmente alimentado, fazendo-se uso de adequados processos de propaganda, organizada de forma sistemática, sendo quase intuitiva.
  • A propaganda divulga informação, ou melhor, divulga desinformação, quer dizer, incompleta, não verdadeira ou distorcida.
  • A propaganda produz despersonalização, desumanização; usa processos cada vez mais sofisticados de notícias falsas (fake news), alimenta os sentimentos de insegurança e de medo.
Alguns comentários pessoais:
  1. Todos nós, nas nossas decisões, em todos os níveis das nossas decisões, desde as mais elementares, corriqueiras, do dia-a-dia, fazemos uso de informação. De informação adquirida anteriormente, ou procurada na hora.
  2. Quanto mais nos afastamos do nosso envolvimento directo (a casa, a família, a escola, o trabalho, o bairro, a colectividade, etc.), mais a nossa participação pessoal (cívica, política, gregária) está dependente de informações que nos chegam dos jornais, das televisões, da Internet, das redes sociais; dos livros; e das outras pessoas.
  3. Sem a informação adequada e oportuna ficamos mais dependentes dos mecanismos psicológicos básicos de organização simples da informação necessária às nossas tomadas de decisão: as crenças, os estereótipos e os preconceitos.
  4. Sem informação, sem conhecer, podemos pensar com base em crenças, em estereótipos, e em preconceitos. As crenças, os estereótipos, os preconceitos ajudam a pensar - não podemos passar sem eles! São atalhos, são filtros, de que a mente se serve para poder pensar mais, mais depressa e melhor.
  5. O grande problema é quando as crenças, os estereótipos e os preconceitos são negativos. Também é problema quando os governantes, os deputados, os partidos; os donos e os protagonistas da comunicação social; os pais e os professores os usam perversamente e desonestamente e/ou ignorantemente na formação das mais jovens gerações.
  6. Hoje em dia, para além dos tradicionais e muito poderosos níveis de propaganda (os governos dos países, as grandes organizações económicas, financeiras e empresariais), abundam também outros com poucos recursos e grandes audiências, por exemplo, muitos youtubers.
  7. O acesso livre do cidadão à informação - que hoje em dia é praticamente sinónimo de acesso à Internet - é um ponto nevrálgico da liberdade ou do condicionamento do cidadão. Dois exemplos: precisamente hoje, na abertura da Web Summit, os governantes portugueses (Portugal é o país anfitrião) só entraram na sala, para dar as boas-vindas, depois de Edward Snowden falar, não fossem ferir susceptibilidades políticas institucionais; e os E.U.A. não ficaram nada agradados com que fosse dada a palavra ao líder da Huawei, da China. Entretanto, a China é um dos países que criaram leis de acesso à Internet; o último a fazê-lo terá sido a Rússia (1). Em Portugal, entretanto, não se entende por que razão ou razões o Ministério da Educação, na sua rede oficial para as escolas, bloqueia o acesso a 'sites' na verdade muito interessantes para os alunos das escolas públicas.
  8. No que diz respeito aos processos e mecanismos de propaganda, não obstante tantos anos passados, o regime nazi de Hitler continua a ser um exemplo extraordinariamente bem organizado e eficaz. É impressionante, ainda hoje, constatar que, 80 anos depois, ainda não foi encontrado um único documento oficial a dizer "Vamos matar os judeus todos". O mais aproximado é o quase eufemístico "Solução final". No notável documentário cinematográfico de Claude Lanzmann, SHOAH, de 1985, no final da actual edição pública, em dvd, no segundo cd, com o título "Shoah, primeira época, 2.ª parte" (2), o o autor faz a leitura de uma sofisticadíssima carta, redigida por engenheiros alemães ligados à construção dos camiões (marca Saurer) em que eram transportados os judeus quando, na primeira fase da Solução Final (a que era feita essencialmente através do fuzilamento e do gaseamento pelo monóxido de carbono emitido pelos tubos de escape dos camiões), aconselhavam ao aperfeiçoamento das carroçarias dos camiões em razão do tipo de "carga" ou "mercadoria" que se mexia dentro dos camiões fechados, tinha tendência a chegar-se aos pontos de maior luminosidade, de gritar e de entrar em pânico. No fundo, tudo era feito para que as pessoas inculcassem dentro de si mesmas as ideias, os sentimentos e os desejos dos autores da propaganda. Quer dizer, as pessoas não eram apenas obrigadas ou obedientes; eram coniventes, e mais: tornavam-se autoras. Que eficaz propaganda!

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(1) Ver na Euronews:
https://pt.euronews.com/2019/11/01/nova-lei-de-controlo-da-internet-entra-em-vigor-na-russia

(2) Shoah, 4*DVD, Midas Filmes, Portugal, 2013.

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